quarta-feira, 4 de abril de 2012

Brasília recebe exposição do projeto Rios Voadores


Brasília recebe a exposição educacional do projeto Rios Voadores. Um dos objetivos da mostra é conscientizar e valorizar a importância da preservação da Amazônia como essencial para as atividades econômicas do país (desde a agricultura até a indústria). A exposição traz fotografias, animações em telas de TV e vídeos para mostrar a valiosa contribuição da floresta amazônica para abastecer os recursos hídricos brasileiros.
O ambientalista e idealizador do projeto Rios Voadores, Gérard Moss, disse à Agência Brasil que o projeto analisa por meio de amostras de vapor de água as massas de ar que provêm da Amazônia trazendo umidade para outras regiões do Brasil. “A região amazônica recircula água. Numa árvore grande, por exemplo, pode-se evaporar até mil litros de água por dia, então a bacia amazônica é uma bomba de água, ajuda a colocar essa água na atmosfera”, disse Moss.
Gérard alertou que se a sociedade não cuidar melhor do meio ambiente, poderá perder todos os benefícios que a região amazônica oferece. “Seria um prejuízo não só para a região amazônica, mas para o país inteiro e principalmente para a economia do pais. O Brasil é campeão em chuva. Não tem país no mundo que recebe camada de água tão favorável para produção de energia, agricultura e outros setores”, explicou.
Nos últimos anos, Moss pilotou um avião monomotor seguindo e coletando as massas de ar na floresta amazônica. Após a coleta foram feitos estudos por cientistas do Brasil com intuito de mapear e entender melhor o fenômeno. “O desmatamento da Amazônia é preocupante, considerando a contribuição das florestas no deslocamento de vapor de água, que é essencial para o ciclo das chuvas da cidade”, disse à Agência Brasil.
Outro grande objetivo do projeto é seguir e monitorar a trajetória dos Rios Voadores procurando entender as consequências do desmatamento e das queimadas na Amazônia sobre o balanço hídrico do país e sua participação no panorama das mudanças climáticas.
Em 2011 de janeiro a março, 83% do vapor de água que saiu da região amazônica, chegou até o centro-oeste e sudeste do país. Brasília recebeu cerca de 20% do vapor de água.
Agência Brasil 04/04/2012
O Fenômeno dos Rios Voadores
O termo ‘rio voador’* descreve com um toque poético um fenômeno real que tem um impacto significante em nossas vidas.
Rios voadores são cursos de água atmosféricos, invisivíes, que passam em cima das nossas cabeças transportando umidade e vapor de água da bacia Amazônica para outras regiões do Brasil.
A floresta amazônica funciona como uma bomba d'água. Ela puxa para dentro do continente umidade evaporada do oceano Atlântico que, ao seguir terra adentro, cai como chuva sobre a floresta. Pela ação da evapotranspiração da floresta esquentada pelo sol tropical, as árvores devolvem a água da chuva para a atmosfera na forma de vapor de água, que volta a cair novamente como chuva mais adiante. 
Propelidas em direção ao oeste pelos ventos alísios, as massas de ar carregadas de umidade - boa parte dela proveniente da evapotranspiração da floresta - encontram a barreira natural formada pela Cordilheira dos Andes. Elas se precipitam parcialmente nas encostas leste da cadeia de montanhas, formando as cabeceiras dos rios amazônicos. Barradas pelo paredão de 4.000 metros, as correntes aéreas (ou rios voadores), ainda carregadas de vapor d’água, fazem a curva e partem em direção ao sul, para as regiões do Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil e os países vizinhos. É assim que o regime de chuva e o clima do Brasil se deve muito a um acidente geográfico localizado fora do país.
Ao se encontrar com certas condições meteorológicas, como uma frente fria vinda do sul, por exemplo, essa umidade trazida da Amazônia pelos rios voadores (que a gente nem percebe) pode ser transformada em chuva. Chuva essa que é de suma importância para nossa vida e para a economia do país, irrigando as lavouras, enchendo os rios terrestres e as represas que fornecem nossa energia. O projeto Rios Voadores busca colocar uma lupa neste processo, voando junto com os ventos, coletando amostras de vapor em busca de maiores explicações.
Por incrível que pareça, a quantidade de vapor de água transportada pelos rios voadores pode ter a mesma ordem de grandeza, ou mais, que a vazão do rio Amazonas (200.000 m3/s), tudo isso graças aos serviços prestados da floresta. Estudos promovidos pelo INPA já mostraram que uma árvore com copa de 10 metros de diâmetro é capaz de bombear para a atmosfera mais de 300 litros de água, em forma de vapor, em um único dia - ou seja, mais que o dobro da água que um brasileiro usa diariamente! Estima-se que haja 600 bilhões de árvores na Amazônia: imagine então quanta água a floresta toda está bombeando a cada 24 horas!
A preservação da Floresta Amazônica é essencial para o Brasil. As imagens das queimadas e do desmatamento são tristes, mas a repercussão a longo prazo pode ser ainda pior. Não somente pela perda da biodiversidade, mas porque a destruição da Floresta Amazônica pode trazer consequências inimagináveis. Ela não é apenas um monte de árvores longe da gente. Mesmo distante, ela tem um impacto significante em nossas vidas, regulando o clima, absorvendo calor do sol ao transforma a chuva em vapor de água e fornecendo umidade para outras regiões do Brasil. Se ela desaparecer, vai sobrar ainda mais ar quente, e será ar muito quente!
A possibilidade de que o atual desenvolvimento da Amazônia brasileira venha a modificar o seu sistema hidrológico deixou de ser especulativa. Torna-se urgente entender e esclarecer os mecanismos climatológicos para melhor avaliar os riscos decorrentes, a longo prazo, de ações como  o desmatamento, as queimadas, a abertura de novas fronteiras agrícolas e a liberação dos gases do efeito estufa.
Todas as previsões indicam alterações importantes no clima da América do Sul em decorrência da substituição de florestas por agricultura ou pastos. Ao avançar cada vez mais por dentro da floresta, o agronegócio pode dar um tiro no próprio pé com a eventual perda de água imprescindível para as plantações.
O Brasil tem uma posição privilegiada no que diz respeito aos recursos hídricos. Porém, com o aquecimento global e as mudanças climáticas que ameaçam alterar regimes de chuva em escala mundial, é hora de analisarmos melhor os serviços ambientais prestados pela floresta amazônica antes que seja tarde demais.
*A expressão "rios voadores" foi utilizada pela primeira vez pelo prof. José Marengo do CPTEC.  As variações do regime de chuvas pedem o aprofundamento dos estudos sobre os jatos de baixos níveis. Para o professor Marengo, esse trabalho ajudaria a estimar impactos do desmatamento da floresta Amazônica sobre o clima no sul da América Latina, além de melhorar a previsão do tempo nessas áreas.
Links de sites relacionados ao tema.

CPTEC
 - Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos
INPE - Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
INPA - Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia
LBA - Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia
IMAZON - Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia



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