quarta-feira, 4 de julho de 2012

Cigarro e sustentabilidade


Sustentabilidade é a palavra do momento. E, durante a Rio+20, esse conceito ganhou mais destaque. Diretamente relacionada à responsabilidade social e à preservação do meio ambiente, a palavra pode confundir e servir apenas como marketing para produtos e companhias que de sustentáveis têm pouco, ou quase nada. O cigarro, cujos malefícios são amplamente comprovados, está dando o seu jeito de também se tornar "sustentável".
Valendo-se de algumas práticas de economia de água e recolhimento de resíduos, as empresas de tabaco correm pelas beiradas, explorando cada iniciativa em relatórios de sustentabilidade e prêmios concedidos pela imprensa e por organizações não governamentais. Mas como premiar empresas cujos produtos causaram, só no século XX, a morte de 100 milhões de pessoas?
Além disso, são cerca de 1,2 bilhão de fumantes no planeta consumindo milhões de cigarros todos os dias e jogando gases tóxicos, como monóxido de carbono, nos ambientes internos e na atmosfera. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), morrem cerca de 600 mil não fumantes no mundo, por ano, devido ao tabagismo passivo.
No portfólio de insustentabilidade dessas companhias, a maioria transnacional, constam ainda práticas nada éticas na sua relação com cerca de 200 mil famílias de pequenos agricultores inseridos na cadeia produtiva de fumo no Brasil. A indústria usa a capacitação e a parceria que são oferecidas a esses fumicultores para os tornar reféns de seus subsídios e tecnologia e os usar como mão de obra barata sem direitos trabalhistas.
É evidente a contradição entre o negócio tabaco e o desenvolvimento sustentável, expressão formalizada pela primeira vez no Relatório Brudtland das Nações Unidas, durante a Rio ECO 92. A doutora Gro Brudtland, responsável pelo relatório que leva seu nome, foi a mesma que viabilizou, como diretora da OMS, a negociação da Convenção Quadro para Controle do Tabaco, tratado internacional para regular as práticas da indústria do tabaco. Ratificada pelo Brasil e por mais 173 signatários, essa convenção, embora tenha feito a diferença em vários países, ainda não conseguiu deter o poder expansionista das empresas transnacionais de tabaco, cujos esforços concentram-se em países mais pobres.


No Brasil, têm sido frutíferos os esforços para reduzir o tabagismo, mas ainda são tímidas as iniciativas para resgatar os pequenos agricultores da dependência econômica da cadeia produtiva do fumo.


Marcos Moraes
presidente do Conselho de Curadores da Fundação do Câncer

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